ALERP
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16/04/2025 10:19:02 | Por: Josselmo Batista Neres | Visitas: 33
Imagem: Divulgação
Olha só como as coisas acontecem. Estava pesquisando sobre a primeira edição do Rock In Rio, realizada em janeiro de 1985, na capital fluminense. De posse da programação, entre as atrações nacionais e internacionais, não sei por qual motivo, fui buscar Os Paralamas do Sucesso. Depois, o Meta AI foi me explorando e perguntou qual das músicas da banda eu gostaria de saber mais. Muitas são as que me agrada, do rock a balada romântica, porém digitei aleatoriamente, “Alagados”. Uma porrada de informações surgiu na tela, uma delas afirmava que é um dos maiores sucessos do grupo e faz parte do LP Selvagem. Foi aí que o pensamento me recolocou no ano de 1986.
Neste período, passava uns meses com meus avós paternos na fazenda Jurema, Quarenta, estes dois nomes a definem. Durante a semana, frequentava a escola pela manhã e assistia a Sessão da Tarde todos os dias. Já no sábado e no domingo, dava umas voltinhas pelo roçado. Sempre me fez bem caminhar sozinho pelas roças, pelo mato. Ali era aonde meus mais atrevidos pensamentos se soltavam. No entanto, em um desses ociosos dias, resolvi descer a pé até o Mandacaru. A caminhada deve ter durado uns trinta minutos.
Chegando no povoado, entrei num bar que ficava em uma das esquinas do quarteirão principal que desembocava na BR-230, de frente para outro comercio de bebidas, separados apenas pela estrada que cortava aquele distrito. O estabelecimento era cuidado naquela tarde quente pelo colega de aula e de futebol na hora do recreio, Carlinho da Mariosa. Curiosamente, a radiola tocava: “Alagados, Trenchtown/favela da Maré/a esperança não vem do mar/nem das antenas de TV/a arte de viver da fé/só não se sabe fé em quê”. Aquele balanço me contagiou e eu pedi para ver a capa do disco que trazia a figura de um adolescente sem camisa, descalço e despenteado, com a mão direita segurava um arco apoiado na terra batida. Mais abaixo, ao lado e em vermelho, estava lá, em forma de carimbo, a inscrição “Selvagem?”
Ao ouvir a faixa-título, anos depois compreendi que a imagem do menino associado ao nome do disco trazia o questionamento de quem era realmente selvagem: a criança maltrapilha ou o contexto violento que a criara? Assim, aproveitei o instante em que no bar não havia clientes, e, com o consentimento do amigo, tomei de conta do som. Segui passando as músicas, a emoção era tamanha que fui ouvindo-as aleatoriamente, sem obedecer a sequência, até que aportei em “Teerã”: “… E o futuro o que trará/para as crianças em Teerã/brincar de soldado por entre os escombros/os corpos deitados não fingem mais…”, letra em alusão a Guerra Irã-Iraque que caminhou por quase toda a década de 80.
A agulha no disco de vinil foi correndo e cheguei em “A Novidade”, letra de Gilberto Gil e música do trio que forma Os Paralamas (Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone): “A novidade era a guerra/entre o feliz poeta e o esfomeado/estraçalhando uma sereia bonita/despedaçando o sonho pra cada lado/Oh, mundo tão desigual/tudo é tão desigual/oh, oh, oh/De um lado esse carnaval/do outro a fome total/oh, oh, oh…”, um balanço manero que mistura rock com a batida reggae caribenha. O LP ainda continha a muito tocada “Melô do Marinheiro”, mas a que me calou, já no final do dia, foi “Você”. Depois descobri que já tinha sido sucesso na voz de Tim Maia, o compositor da canção.
Você
É algo assim
É tudo pra mim
É como eu sonhava, baby
(…)
Sou feliz, agora
Não, não vá, embora não
(…)
Vou morrer de saudade!
Vou morrer de saudade!
Vou morrer de saudade!
Francisco de Assis Sousa é professor, cronista e presidente da Academia de Letras da Região de Picos – ALERP.
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